terça-feira, 26 de junho de 2007

Retrato de um sururu de capote



“A gente olha pro passado e vê como a gente era no início da adolescência, não usávamos drogas, vivíamos em perfeita harmonia com a família, nada de ruim acontecia, quando vemos agora, apesar de tudo, jogados nesse mundo obscuro e contrariado, não recuperado, mas em processo de recuperação, você olha pelo retrovisor do carro e vê o seu passado, tudo era mais bonito”. Esse é o depoimento de um rapaz de classe média, que não é preciso entrar em detalhes. É, o que ele citou é o que a gente realmente vê no meio em que vivemos, é só termos um pequeno ou grande deslize que já temos a quem recorrer, à nossa família, aos amigos, às clínicas, ou até mesmo virando as páginas do nosso antigo e esquecido diário.

Acontece que nós temos o privilégio de poder olhar pro passado, ver como nossa infância era cheia de beleza, de glórias. Já quem mora em uma favela, não tem passado pra olhar, nem família pra ajudar e muito menos amigos com quem contar. Moradores de bairros pobres são acostumados com esse tipo de vida, tráfico, drogas, morte, traição, desde que começaram a ter noção do que é viver. É muito simples pra gente olhar pra trás e ver como tudo era diferente, e olhando com esses olhos, não é tão complicado mudar, voltar a ser o que era antes. Mas pra eles a realidade torna-se muito dolorosa. O passado é igual ao presente e provavelmente do mesmo jeito que será o futuro. Você sai de um barracão da favela e já dá de cara com alguém vendendo fumo ou fazendo o uso deste. Cresce ao redor de toda a maldade e falta de amor possíveis. Para muitos, o único meio de sobrevivência é entregar-se ao consumo de drogas ilícitas ou contribuir efetivamente com o tráfico, sendo apenas o “mensageiro”, pra mais tarde vender, usar entorpecentes e carregando, claro, o metal pra se proteger. Agora responda, nessas circunstâncias, é tão fácil mudar por espontânea vontade? Não. Pois seus amigos são traficantes ou usuários, alguém da sua família só vive bêbado e quando você sai de casa não encontra nada além daquilo o que te destrói.

Nesse tipo de vida não há retrovisor, muitas vezes nenhuma alma solidária, quase nenhum grupo de apoio, ficando realmente difícil a escapatória, pois tudo o que eles vêem como forma de sobrevivência é se entregando ao que é “normal” para a maioria dali. São pouquíssimos os que saem da favela com o propósito de estudar, ter uma vida melhor, eles estão subordinados a tudo aquilo como se estivessem nascidos e predestinados a fazer tais atos. É a falta de formação e informação.

A gente tem o costume de botar a culpa de todos esses acontecimentos no governo, mas não é bem assim. Não é só do governo que as atitudes tem que partir, mas de cada cidadão. As pessoas reclamam, reclamam, botam a culpa em Deus e no mundo, mas nada fazem. Quer que o mundo mude? Tente mudá-lo, não deixe pra depois ou pra outro alguém. Não precisa ser político, doutor, diplomata, professor, basta ter boa vontade. O mundo está decaindo, mas não é o aquecimento global que ta fazendo isso não, somos nós mesmo que o estamos destruindo, não ele em si, mas as pessoas que residem nele, que o faz entrar em processo de decadência interior.

Quando você abre o olho pode entrar nele um cisco, um mosquito, a cinza de um cigarro, mas a partir do momento que você tem coragem de abri-lo e ver o despertar da realidade é maravilhoso, excepcional. Tirar o cisco do olho de quem vive com ele aberto, não é complicado, muito menos difícil, é só um simples sopro. Fechar os olhos não vai te proteger da realidade, só sendo vantajoso para os que necessitam de bons sonhos, apenas sonhos.

Eu também prefiro as crianças assim, feito as que estão na foto. Nem que seja um Bom Dia bem dado, uma canção bem recebida, um abraço, um simples ato de carinho. Nós precisamos, eles também precisam. Não é só dinheiro, não é só comida, nem brinquedos. Falta amor pra essas crianças também, o que é mais do que necessário. Doe um pouco de amor.

domingo, 24 de junho de 2007

"lugar onde se recolhem e tratam animais abandonados", talvez essa seja a descrição correta para remeter ao lugar que nós visitamos. O local é precário, hostil, sem cor, mas foi possível conhecer pessoas bem interessantes, que nos fizeram rir no primeiro momento e logo sentir medo por suas instabilidades mentais.
Eu, particularmente, saí como se tivesse totalmente tocada, literalmente tocada, como se cada energia negativa tivesse ficado em mim, como se cada olhar de curiosidade tivesse me deixado aflita. É importante ressaltar que não é o tipo de coisa fácil de fazer, no meu caso, fez mal, mas foi um experiência e tanto, que ajudou e ajuda a construir certo conceitos e acrescentar conhecimento.
Alguns alí passam 45, 30 dias internados, mas logo estão na rua, consumindo drogas,
praticando "crimes", sofrendo abusos sexuais...
O local também abriga dependentes químicos, que por incrível que pareça, utilizam a droga no próprio pátio, sem o menor medo de serem apreendidos. Não sei o que eles fazem por lá.
Conhecemos uma "sala" de pintura, de artes... Talvez alí seja o local onde todos deveriam estar
sendo incentivados a criar, e pintar o que quiserem, mas vimos apenas uma "artista" fazendo um trabalho um tanto que repetitivo, não dava pra saber se era por livre e espontânea vontade... Ou apenas uma obrigação.
Diante de tantas dificuldades sobram certas(muitas) dúvidas sobre o que é ser normal... Vai saber, né

terça-feira, 12 de junho de 2007